quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

A Vida Por Um Fio_______________

A gente acorda, levanta, toma banho-café, passa batom ou coloca o paletó e sai. Sai, tem certeza que volta mas, não tem consciência que pode não voltar! Se tivéssemos, beijaríamos toda a família logo cedo e diríamos o quanto os amamos. Ligaríamos para os amigos, parentes e diríamos da importância de cada um em nossas vidas. Deixaríamos tudo arrumadinho, nos seus devidos lugares. Até a xícara do café apressado lavaríamos. Abriria a porta, já com um grande sorriso no rosto:- Booommm diiiaaaa! Prá todo mundo. Mas, não é assim. Nem daria tempo, perderíamos a hora, todos os dias. Principalmente eu, que tenho grande problema com horário. Meu Deus, preciso tanto melhorar isso! Naquele dia foi assim. Todos sairam. Alguns voltaram no mesmo dia, outros, semanas depois. E outros,......nunca mais voltaram. Muitas vezes, amigos foram viajar, eu não fui. Foram ao cinema, eu não fui. Ao clube, eu não fui. A festa, eu não fui. Acampar, eu não fui. Quantas vezes, chorei, xinguei, briguei, fiz bico, cara feia?! Não adiantou, por que, eu não fui. Naquele dia eu também não fui......e agradeci! A vida por um fio. O que será que nos separa tão delicadamente, de um mundo do outro? O ângulo, a reta, a curva? Um centímetro a mais, a menos? Um estufar de peito, arrumar de cabelo, cumprimentar a pessoa ao lado? Um espirrar, balançar? Um metro, uma quadra, um quilômetro? Não sei! Naquele dia, estávamos todos no mesmo lugar, na mesma hora. Na mesma situação e desespero. Todos diferentes, estranhos e
numa fração de segundos, todos iguais: - Saidos de casa com intenção de voltar, fazer a unha, a barba, lavar a xícara do café apressado, beijar o filho, escrever uma carta, assistir à novela, fazer o bolo, o jantar, fazer nada, ler o jornal, terminar a blusa de trico. Como saber, adivinhar, intuir, prever? Como saber que aquela que havia acabado de passar por mim, dar o nome, o valor que carregaria na carteira, assinar o cheque, não voltaria mais? Nunca mais. Nem para o escritório, de onde desceu a 10 minutos, provavelmente deixando muita coisa para terminar na volta. Que jamais aconteceria. Não voltaria mais a assinar cheques, a precisar de dinheiro, a voltar para casa, a beijar a mãe. Eu deveria ter olhado para ela e mesmo naquele dia tumultuado, sorrido tranquila e perguntado, olhando nos seus olhos:-"Qual o seu nome?" Ela então me responderia:-"Heloísa". E eu diria:-"Puxa que nome lindo, nunca mais vou esquecer." E nunca mais esqueceria mesmo. Não me lembro dela, passando pela minha mesa, de batom, bolsa, anel e se usava relógio. Não me lembro dos olhos, nem do sorriso dela. Se os cabelos estavam soltos ou presos. Me lembro da foto; sem batom, jóias, roupas, sem olhar, sem sorriso. Apenas aquele diâmetro, por onde lhe passou a vida. Luz em um instante, escuridão no outro. Agora, estava tudo fora do contexto: Não tinha planos de receber visitas naquele dia, e recebi. Não combinei nada com meus amigos, eles estavam lá. Não tinha consulta marcada, estava no hospital. Não precisava tomar injeções, estava tomando. Quem será que voltaria para casa naquele dia, em semanas ou quem jamais voltaria. Aquele momento estava em preto e branco mas, minha gravata azul turquesa, que nem havia sido paga ainda, estava no bolso da calça jeans da minha irmã, que eu estava usando emprestada naquele dia. E se ela precisasse da calça, no dia seguinte? Tudo é um risco. Ela correu o risco me emprestando a calça, eu corri o risco, saindo do meu local de trabalho, o Àlvaro, de sair junto comigo, a Heloísa, saindo da sua sala naquele momento, o José ao começar a trabalhar ali, há 3 meses e não voltar nunca mais, o Antonio ao ter mudado de posto. Estamos por um fio. O momento da concepção é um risco. Nascer, é um risco. Viver é um risco. A vida é um risco. Que bom viver! Todo dia, é um novo dia!