sexta-feira, 2 de julho de 2010

A Copa Acabou, a Vida Continua!

A bola começou a rolar no dia 11 de junho de 2010 - prá nós, ela começou a rolar no dia 15, daí por diante, parou tudo; não rolou mais nada! Claro que é força de expressão, as coisas rolaram sim, mas, naquele marasmo de primeiro tempo numa pelada de campinho de futebol para iniciantes,...futebolzinho de várzea. Chuta, que chuta, e mal se consegue passar da linha do meio campo. Parecia que tudo aquilo que passamos anos correndo atrás, estava agora em total concentração. Todo nosso treinamento, aguardo, espera, ficaram dentro das mochilas, trancados nos armários, dos vestiários. Uma conversinha aqui, outra acertadinha ali, um comentariozinho acolá e vamos esperar. Quem sabe, na próxima escalação? Todos me pedindo calma acenando a bandeirinha da paz, de dentro do gramado. E eu ali, esperando no banco de reservas, mais do que preparada, aquecida. Pronta para entrar em campo, matar a "jabulani" no peito, deixar que ela deslizasse suavemente até a ponta da chuteira, onde deveria estar meu coração. e sair dando chapéu em todos aqueles que duvidaram do meu potencial. Partir prá cima. Era preciso jogar! Será que ninguém entende? Não dava para ficar no meio desse enorme círculo, fazendo papel de bobinho! Estava difícil roubar a bola do adversário e partir para o contra-ataque. Melhor seria fechar a defesa e jogar na retranca. Cavar uma falta, quem sabe? Falta "honesta", claro! Jamais perder a esportividade e nunca,...primeira regra de qualquer jogo,...nunca, subestimar o adversário. No meu caso e acredito que no caso de milhões de brasileiros, o adversário era bastante forte. Todo adversário é forte, forças contrárias, enfraquecem ambos os lados. Trabalhos individuais, visando a coletividade, toquinhos perfeitos, bem marcados, bons lançamentos, jogo de equipe, todos focados, num mesmo objetivo. E não esquecendo o elemento surpresa, fica muito mais fácil acertar o alvo. É preciso estar atento, o ladrão está em todas as partes. Outra boa estratégia, é não se intimidar com provocações, elas certamente virão. Lá vem ele, chutando em tudo quanto é direção; partindo de todos os ângulos e quando não consegue invadir a grande área, cava falta, exige penalti. Consegue um escanteio, dá bicicleta, bate na trave e acaba entrando, não muito redondinha, num toque de caneta, por debaixo da porta. Quem não faz, toma. "Haaaja, coração, amigos..." sangue frio, cuca fresca, maturidade, experiência e amor à camisa para encarar um adversário nessas condições. Quem dera eu fosse um "zacumi", com fôlego suficiente e resistência física, para correr o tempo todo. Certamente viraria o "mascote" da turma. Para mim, o jogo não acabou, alías, nem chegou a parar. Jogo sempre os 45 x 45, e aqueles 15 minutinhos de intervalo, que seria para descanso, muitas vezes só me servem como tortura e pressão psicológica. Loucura pensar numa possível prorrogação. Tem partidas, que fica difícil encarar até mesmo o tempo regulamentado. As vezes, a melhor defesa, é o ataque, né gente? Tem que pegar o apito e botar a boca no trombone, nesse caso, na "vuvuzela". Briguei,...parti prá cima, encarei o adversário com suor do rosto. Levei canelada, dei carrinho e embora tenha sido advertida que tomaria cartão amarelo, não amarelei. Claro, passei a jogar com mais cautela, já que estava pendurada. Quando percebi que a entrada era dura, me mantive firme e resolvi não mais dar cabeçadas. Respirei fundo e fui aos poucos, ajeitando o meio de campo. Fazendo tabelinha e procurando, não pisar na bola. É preciso ter jogo de cintura. Nem sempre partir para o corpo a corpo nos leva a bons resultados. Há momentos que só um belo drible e muita raça, nos faz merecedores de carregar a faixa de capitão. Para nós, a copa começou e terminou antes do dia 11 de julho. Para mim, a bola não parou de rolar em nenhum momento. Todos os dias, mesmo aqueles de menores expectativas, tudo continuou chegando redondinho:- Conta de luz, água, telefone, internet, aluguel... Só o time adversário, com a corda toda e bola nos pés:- Cobrança, reclamações e até cartão amarelo, com ameaça de um vermelho, do plano de saúde. Tem horas, que antes mesmo de entrar em campo e fazer uma bela partida, a vontade é pedir um tempo, uma substituição e permanecer ali, no banco de reservas ou ficar lá na arquibancada, só espiando, de beeemmm longe. Sei lá,...alegar uma lesão!......Fazer fisioterapia atéééééé......
Éééé...a copa acabou, fomos desclassificados. Kaká, Robinho, Lúcio e até Luis, que agora é Fabuloso, continuarão com suas vidinhas de pobres, talvez agora, um pouquinho menos milionários. Sendo preciso carregar o peso dessa amarga derrota com a camisa verde e amarela. Eu encaro dias de frio, calor e nebulosos, seja lá com que camisa for. Muitas vezes, só com a cara e a coragem. Apesar de tudo, fico feliz por continuar no jogo, saber que não fui expulsa. Mais uma vez, corro para não perder nenhum lance. Amanhã é outro dia, com certeza farei uma melhor partida, com essa mesma camisa e quem sabe? Em outros gramados! Só preciso ter fôlego para continuar, ou começar,...tuuudo de novo ou tudo outra vez. Não importa, estou preparada! Vou novamente para o meio de campo, confiro o uniforme, arrumo a chuteira, ajeito a bola e mesmo ganhando ou perdendo no par ou ímpar, estufo o peito, levanto a cabeça e corro. Corro muito, dou olé em todos que cruzarem meu caminho querendo me derrubar. Passo um, passo dois, passo três, pedalo daqui, pedalo dali e Gol, Goooooollllll,......Levanto a galera, me aproximo do alambrado e corro para o abraço! A copa acabou, a vida continua! Faço parte dessa seleção, sou titular e já estou escalada para o próximo jogo! De olho na bilheteria, de olho no placar!!!