quarta-feira, 23 de novembro de 2011

100% de Nada-Nem do Bem, Nem do Mal.

Hoje o que vi, me lembrou cenas do filme A Pedra Filosofal, quando Harry Potter no trem, se assusta ao abrir o pacotinho de figurinhas e as imagens fogem e Ronnie indignado pergunta se ele estava achando que elas ficariam ali, o dia todo. Sorri, igualmente feliz com a pureza e simplicidade da cena móvel real, desta manhã. Dois moradores de rua caminhavam lado a lado na calçada - um cambaleando, não sei se bêbado ainda de sono, pelo horário matutino ou por sua companheira fiel de todas as horas. O outro puxava uma grande carroça de madeira, parecendo assim, prá mim, um pouco mais aprumado. Mas, quem roubou a cena, foi o majestoso vira-lata preto. Caminhando rente a parede, ia fuçando o caminho, na esperança talvez, de algum petisco ofertado pela própria natureza digno de um, daqueles três mosqueteiros. A gola do seu moleton
estampado, rosa e azul......sim! A gola do moleton do cachorro...pendia para o lado direito, durante o movimento dançante, de suas patas dianteiras que agora faziam a vez de prováveis bracinhos infantis de "outrora". Leves e soltos. Foi assim que pularam da minha figurinha.
Saíram de cena e fixaram-se em mim, durante todo o dia. Fiquei pensando......quem?
Quem......em plena falta de tudo, na ausência constante do mínimo, vai se lembrar de colocar o moleton no cachorro, feito mãe zelosa que nunca se preocupa em pagar mico, todas as vezes que pergunta ao filho se não esqueceu de levar o agasalho, por que pode esfriar. Diante da minha descrença-revoltosa-sistemática-humanista, acabo de crer que as pessoas, o mundo, a vida é definitivamente yin yang. Talvez aquela mesma pessoa, que em outras circunstâncias me assustasse ou me ferisse, é a mesma que agora, protege e ampara. Eu, que em outras circunstâncias também, ignorasse, fechasse os vidros e os olhos, agora me desfaço em agradecida emoção pelo presente inconsciente dado e recebido de mãos limpas e corações abertos. Presenciei em menos de 30 segundos o que de mais bonito a vida pode nos dar: Amizade, companheirismo, preocupação e lealdade. Cenas do cotidiano interpretadas por artistas sem palco e sem platéia. Temos todos, papéis involuntários e inconscientes de protagonistas e espectadores, determinados apenas no exato momento do disparo do flash de alguém. Não somos 100% de nada - nem do bem, nem do mal. Fazemos parte de um contexto maior, precisamos encontrar nosso equilíbrio.